O livro Mortais pode ajudar no envelhecimento com menos crises

Livro: Mortais, nós, a medicina, e o que realmente importa no final

Livro: Mortais, nós, a medicina, e o que realmente importa no final (2015)

Autor: Atul Gawande

No Brasil, pela Companhia das Letras

Resenha por Gustavo Villas Boas Farias

Assim que eu passei no vestibular para o curso de medicina, aos 37 anos, lembrei que teria que lidar com um grande medo: a morte. Porque, nossa, não gosto nada da ideia de que vou morrer.

Por isso, veio a calhar, desde o título, o livro “Mortais – Nós, A Medicina e o Que Realmente Importa No Final”, do médico norte-americano de família indiana Atul Gawande.

Saber a nacionalidade (e o lugar que ele foi criado) e a origem familiar de Gawande são importantes no contexto da obra, porque são fatores importantes no contexto da morte.

No começo da obra, Gawande demonstra que o processo de morrer é eminentemente cultural. A ideia fica clara quando ele demonstra que, na Índia de seu avô, o final da vida, em casa, é muito diferente do ocaso nos Estados Unidos, onde o suspiro derradeiro acontece geralmente em hospitais –e nem é bem um suspiro, pois muitas vezes a pessoa está intubada.

A vida familiar de Gawande serve não só para sustentar o argumento do final da vida como evento cultural, mas também como a grande linha narrativa da obra, com a vida -e os últimos dias- de seu pai.

A história deixa lições e perguntas: vale a pena sacrificar a qualidade de vida e, palavra-chave na obra, independência, para estender o tempo de vida de forma precária e com sofrimento?

Ainda que seja um livro emocionante, Mortais também é uma obra de medicina.

O autor nos apresenta, por exemplo, pesquisas e dados a respeito da medicina paliativa e das práticas modernas para aumentar a expectativa de vida, além das questões éticas que as duas alternativas impõem ao médico e a sua relação com o paciente.

A medicina paliativa posta à vista pelas palavras cheias de empatia de Gawande é emocionante.

As histórias não são contadas a partir do horror dos familiares ou da falta de recursos dos médicos para lidar com casos fatais, mas sim de forma a colocar, em primeiro plano, quem realmente importa: a pessoa que sabe que o final da vida é inevitável em um tempo quase determinado.

Leitura fundamental para médicos, estudantes de medicina e das áreas de saúde em geral, Mortais, com elegante mistura de reflexões filosóficas, narrativa de vida, história da medicina e divulgação científica, se transformou em ícone cultural e um dos principais livros da década –apareceu na lista de melhores do ano em 2015 e teve uma adaptação para o cinemão foi anunciada em 2022, com astros como Bill Murray e Aziz Ansari, entre outros reconhecimentos.

About gustavo

Sou médico formado pela UFMG em 2023 e jornalista pela Unesp-2003. Trabalhei como repórter e redator na Folha de S.Paulo e como editor no Estadão.com. Já fiz mochilão de 5 meses pela América do Sul, quando editei um site independente de turismo. Meus interesses são variados e mutantes: aqui você poderá ler sobre medicina, corrida, cannabis, ciência e política. Ou não.